Bitcoin vai continuar independente de governos, diz especialista

Em visita ao Brasil, Andreas Antonopoulos fala com otimismo sobe futuro da moeda e diz que regulamentações só atrapalharão inovação e oportunidades
Andreas Antonopoulos é uma espécie de guru quando o assunto é Bitcoin. Ele é autor do livro “Mastering Bitcoin”, considerada umas das mais abrangentes obras técnicas sobre o assunto e atualmente traduzido para 12 idiomas, incluindo português. O livro se encontra disponível na rede para download gratuito.
Cientista da computação, Antonopoulos esteve no Brasil na última sexta-feira (8) para a primeira edição do “Bitcoin Summit”, evento promovido pela CoinBR e que se propôs a discutir desafios e perspectivas da moeda virtual no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao IDG Now!, Antonopoulos defende com otimismo o futuro da moeda e rebate o polêmico artigo de Mike Hern, um dos principais contribuidores do Bitcoin que, no ano passado, afirmou que o bitcoin era “um experimento falido”. 
IDG Now! - Como e por que você começou a atuar com bitcoins?
Andreas Antonopoulos - Minha formação é em Ciências da Computação, eu me especializei em 1993, tenho graduação em redes e sistemas de distribuição e, ao longo da minha carreira, me especializei em segurança, trabalhando bastante com serviços financeiros. Sempre vi essas tecnologias como uma forma importante de empoderar pessoas, dar a elas independência e liberdade. E sempre me interessei pela ideia de uma moeda não governamental. Quando eu li pela primeira vez sobre o Bitcoin eu não entendi direito, achei no início que era uma espécie de moeda virtual para jogos de azar. A segunda vez que eu tive contato com o tema foi quando li um white paper e imediatamente entendi que era um sistema descentralizado e distribuído e foi então que eu vi uma oportunidade, que isso era realmente diferente. Eu imediatamente deixei o que eu estava fazendo e mudei minha carreira para trabalhar inteiramente com Bitcoin. E agora, quase toda a minha renda vem diretamente do Bitcoin.
IDG Now! - Você disse anteriormente que moedas descentralizadas como o Bitcoin são uma abordagem mais democrática do que nosso atual sistema. De alguma forma, moedas virtuais poderiam ser um caminho para diminuir diferenças sociais?
Não necessariamente. Acho que é ingênuo acreditar que a desigualdade poderia ser resolvida por uma tecnologia. Eu acho que a desigualdade é algo que surge das sociedades, é parte da natureza humana, é um problema muito mais profundo do que sobre a escolha de qual moeda usamos ou como essa moeda funciona, entretanto, eu acredito que a desigualdade piorou pelo fato de que nossos sistemas financeiros excluem bilhões de pessoas e excluem bilhões de pessoas com o intuito de implementar fiscalização financeira e de identidade de forma que se torna impossível incluir todos. 
O fato de que o Bitcoin não requer identidade, não se preocupa com tais regulamentações, não faz fronteiras e geopolítica, abre uma porta para incluir essas pessoas, isso pode mudar a desigualdade? Eu acho que se você der as pessoas oportunidades e você as conecta com o mundo, isso só pode melhorar as condições econômicas delas. 
IDG Now! - Como fintechs podem contribuir para levar a moeda ao próximo passo?
Eu acho que a tecnologia vai atingir isso de qualquer forma. A questão do Bitcoin é que há milhares de desenvolvedores espalhados pelo mundo trabalhando agora para tornar o meu dinheiro mais útil. E isso você não pode dizer sobre qualquer outra tecnologia, Bitcoin não é uma fintech, não é uma companhia, não é um produto. O Bitcoin é um sistema, uma rede como a própria Internet. E para cada companhia que trabalha nela aumenta o valor para cada um que a usa e para cada invenção que adicionam ao Bitcoin, aumenta o valor do meu investimento na tecnologia. Nós chamamos de efeito de rede, e esse efeito é uma força poderosa. 
IDG Now! - Como você vê o mercado brasileiro na adoção da moeda? 
O Brasil tem uma oportunidade única, ironicamente por que tem tantos desafios e aí aparecem ótimas oportunidades. Em áreas de desigualdade também vêm grandes oportunidades, o fato de que as pessoas não estão conectadas, por exemplo, isso significa que se você conectá-las você aumenta o valor de toda uma economia. Brasil tem uma população jovem grande, que é uma grande vantagem. 
A questão sobre o Bitcoin é que a oportunidade a partir dele não estão em lugares como América ou a Europa ocidental. Eles não precisam de Bitcoin, eles já tem moedas relativamente estáveis, bancos que atingem quase 78% da população. O Brasil precisa de Bitcoin. E o Bitcoin pode ter sucesso em países como o Brasil, Argentina, Filipinas, Indonésia, África do Sul, lugares que têm enormes populações com desigualdade, grande população e muito jovem. Todos esses são fatores que você pode se beneficiar da tecnologia e por isso que você vê a penetração de smartphones acontecer mais rápido em países como o Brasil do que acontece nos Estados Unidos. 
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IDG Now! - Um dos principais desenvolvedores do Bitcoin, Mike Hern, disse no ano passado que o Bitcoin era um experimento falido. Como você recebeu isso?
Eu fiquei muito surpreso de que o Bitcoin havia morrido de novo. Por que a essa altura, mais de cem artigos escreveram sobre como estava morto. Na verdade, em três meses desde o início do Bitcoin escrevem sobre como ele está morto ou que já morreu ou está prestes a morrer. Eu acho que uma das coisas mais fascinantes sobre a moeda é que ela cria um mercado fantástico. Se você ouvir que o Bitcoin está morto, você vai ver que em três meses ele está vivo. Aí você começa a pensar: essa coisa realmente não morre. Eu, às vezes, digo que o Bitcoin é o zumbi do dinheiro, é aquele que nunca morre. 
Mike estava bem apaixonado pelas suas opiniões, ele fez importantes contribuições para a moeda e teve desacordos sobre a direção da moeda no futuro. Mas a questão de que faz o Bitcoin forte é que nenhuma pessoa pode impor sua decisão sobre outras e todas estão livres para se unirem e também livres para sair. Eu sou muito mais otimista sobre o futuro do Bitcoin que Mike. Eu não vejo esses problemas como insuperáveis, e acho que nós teremos um 2016 bem sucedido, minha previsão é que no final de 2016 o Bitcoin ainda não estará morto.
IDG Now! Uma das críticas ao Bitcoin é que poucas pessoas têm a tecnologia e recursos para minerá-los. Como você vê isso mudando?
Eu me interesso por tendências a longo prazo. Quando o Bitcoin começou apenas uma pessoa entendia, e ninguém acreditava que funcionaria. [Satoshi] Nakamoto disse a si mesmo que talvez funcionaria, nem ele estava certo de que funcionaria e todo mundo que se uniu a isso começou cético e depois gradualmente ficou mais interessado. A parte da população que entende, que usa o Bitcoin tem crescido exponencialmente. E quando eu vejo algo crescer em taxas exponenciais eu não me preocupo com centralização.
O Bitcoin é ainda é, na maioria, usado pelo homem branco que fala inglês. Isso está mudando e muito rápido. Já a maioria das atividades de Bitcoin está acontecendo na China, não nos Estados Unidos como aconteceu há anos atrás. O desenvolvimento tem se diversificado e está acontecendo ao redor do mundo agora. Para mim, a pergunta mais importante é como nós conseguimos ter acesso a esse conhecimento e levar ao maior número de pessoas possível. Eu não olho onde está o Bitcoin hoje e sim onde caminhará. Há uma explosão de talento ao redor do mundo e trazendo pessoas de todos os países e idiomas, de cada gênero, de posicionamento político, classes econômicas. No final, eu acredito que nós estamos na mesma trajetória que a Internet. A Internet quando começou era branca, falava inglês e predominantemente usada por homens da Califórnia. E agora o fenômeno é global. Esse é o futuro do Bitcoin. 
IDG Now - Você disse na sua apresentação para governos deixarem o Bitcoin por pelo menos cinco anos. Você acredita que isso acontecerá? [No ano passado, estado de Nova York se tornou o primeiro a regular a moeda].
Aconteceu com a Internet. A maioria dos governos não fizeram nenhuma regulação dela, por pelo menos cinco anos, quando surgiu em seus países. E muitos países ainda não têm muitas regulamentações para ela. Na verdade, as companhias mais bem sucedidas da Internet estão em lugares onde há menos regulação da rede. E por todo o drama e os desastres associados a Internet no início, que ela só seria usada por criminosos, terroristas, para pornografia, no final, a Internet tem sido usada por todos nós para fazer coisas muito interessantes e criar oportunidades para milhares de pessoas. 
Nós não sabemos onde o Bitcoin estará nos próximos cinco anos, até mesmo as pessoas que são especializadas nisso, esse é um experimento que está em progresso. Então o Governo escrever leis sobre algo que eles não entendem, em cima de algo que está mudando tão rápido, é quase que uma garantia de que eles vão escrever as leis erradas e o resultado disso é que destruirão a indústria do Bitcoin em seus países, mas eles não vão parar o Bitcoin e não vão mudar a direção dele. Na verdade, eles não afetarão o Bitcoin de nenhuma forma, o que eles afetarão são as oportunidades de seus países em participar do projeto. 
O Bitcoin é um fenômeno global que irá aos lugares onde é mais fácil para operar e governos que regulamentam só tirarão oportunidades para seu próprio povo. Acho que é um grande erro. Então o melhor conselho é que nós não precisamos de ajuda, não precisamos de suporte, de aval, nós não pedimos permissão. O Bitcoin vai continuar, independente, do que governos fazem. E a única coisa que governos podem mudar é seu relacionamento com a moeda, por que eles não podem mudar o Bitcoin.
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